Investigadores avaliaram a perceção humana da dimensão e peso de partes do corpo, mais especificamente da mão, em comparação com a perceção dos objetos, e concluíram que são diferentes. Enquanto no caso dos objetos, quanto menores os observamos, mais pesados nos parecem, no caso das mãos, o resultado é exatamente o oposto. Este estudo é importante para se compreender como os indivíduos com anorexia nervosa e outras perturbações alimentares experienciam o tamanho e peso do seu corpo.
De acordo com a lei de Newton, o peso é calculado pelo produto da sua massa pela gravidade. Como é que o cérebro determina o peso de objetos e de partes do corpo? Há mais de um século que se reconhece que o tamanho dos objetos altera a nossa perceção do seu peso. Quando pegamos num objeto pequeno e num objeto grande com massas semelhantes, mesmo apenas para os empurrar, o objeto mais pequeno parece mais pesado (exemplo: bola de golfe em relação a bola de praia). Este fenómeno é conhecido como ilusão de tamanho-peso (em inglês
size-weight illusion) e é uma prova clara de que o tamanho percebido influencia significativamente o peso percebido de um objeto.
Pouco se sabe, no entanto, se o mesmo também é válido para o peso de partes do nosso corpo. Com o apoio da
Fundação BIAL, uma equipa de investigadores da
Birkbeck University of London procurou responder a esta questão avaliando os efeitos da incorporação de uma mão aumentada e de uma mão encolhida na perceção do peso da mão, numa amostra com 20 participantes saudáveis.
“Manipulámos o tamanho da mão utilizando uma ilusão visual-tátil com espelhos de aumento e de diminuição”, explica a investigadora Elisa Rafaella Ferrè. “Em seguida, medimos a perceção do peso da mão através de uma tarefa psicofísica de correspondência, na qual os participantes avaliavam se um peso pendurado no pulso parecia mais pesado ou mais leve do que o peso experimentado da sua mão”.
Os resultados foram apresentados no artigo “
Perceived hand size and perceived hand weight”, publicado na revista científica
Cognition de janeiro de 2025, e revelaram que os participantes tendiam a subestimar o peso da sua mão mais quando incorporavam uma mão mais pequena e menos quando incorporavam uma mão maior.
Este estudo demonstrou que a ilusão de tamanho-peso, que se verifica na perceção de objetos, não se aplica a partes do corpo, uma vez que uma mão maior foi percebida como mais pesada e não mais leve, apesar de pesar o mesmo, e a lógica foi inversa para a mão pequena. Os resultados apontaram, assim, para dois mecanismos diferentes na perceção do peso, um para as partes do corpo e outro para os objetos.
“Investigar a forma como os indivíduos com perturbações alimentares experienciam a ilusão de tamanho-peso, tal como apresentado neste estudo, pode aprofundar a nossa compreensão destas perturbações e da sua relação com as distorções corporais”, sublinha Elisa Rafaella Ferrè.